terça-feira, fevereiro 28, 2006

Carnaval II

Pois é... hoje é terça-feira de Carnaval...
Desde sexta-feira, pelo menos aqui em Brasília, já começamos a sentir a agitação e o burburinho das festas. A cidade, pra variar, pára. E eu, como boa brasiliense- sem- grana- pra- viajar que sou, fiquei em casa.
Marcelo e eu alugamos uns filminhos, fizemos umas lazagnas, um bolo prestígio, tomamos umas cervejas...e assistimos a algumas escolas de samba do Rio pela tv (o que não fazemos pelas nossas mães...).
Ontem, segunda-feira, demos uma saidinha pra ver o movimento na cidade. Ai...
Passamos pelo lugar onde o bloco "Galinho de Brasília" (foto acima) estava concentrado. Interessante porque participam famílias inteiras, desde as criancinhas até a vovozinha. Ai, mas eu nunca vi tanta gente mijando na minha vida! E olha que nós só passamos pela beira, já que nosso objetivo era ir ao bar do "Piauí", tomar umas cervejinhas e tal... Legal MESMO do bloco é que se trata de uma tentativa de estender a cultura pernambucana (frevo, maracatu etc) até essa cidade híbrida que é Brasília. Tocam marchinhas e eles têm uma banda de metais muito legal. Completou 15 anos de existência esse ano de 2006.

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Este é o bloco do "Pacotão" (foto acima). Apesar de lúdico, é meio bagaceira e fim de festa... Trata-se de um bloco criado por jornalistas na fase da ditadura militar, com o intuito de criticar e satirizar as "perfomances" políticas da época. Daí vai até hoje... O que acontece nesse bloco é que não há um grupo que comande a festa, existem vários deles espalhados e descentralizados pelo local.
Ah, o local é um capítulo à parte...
Os dois blocos têm como ponto de parada a 203/204 Sul, uma entrequadra comercial. Já está ocorrendo uma mobilização contrária a essa realização (comerciantes e moradores do local) por conta da bagunça, sujeira e risco que o comercio sofre com o evento. É justo. Afinal, se Brasília já não é mais a mesma, vem aumentando a cada dia o número de foliões e está complicado mesmo. Muitos carros estacionados em área indevida, muita gente mal educada (é verdade), pouca organização (muito xixi, baderna, playboys), enfim... Não dá mais muita vontade de sair de casa e só se aborrecer...


segunda-feira, fevereiro 27, 2006

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Je voudrais...

D'un amour entier, qui tourne à droit de ma tête...


Oui, c'est possible.
Ela era solitária. Procurava um grande amor. Um homem que realmente a interessasse. O grande amor que a fizesse viver sua própria história.
Os dias se passavam diante da tv e ela se sentia cada vez mais singular.
Até que um dia, Platão a avisou: "Vais se apaixonar por um desconhecido, sua vida irá mudar."
Oui, garçon, je sais que c'est possible, que mon amour pour toi est fabuleux! JE T'AIME BEAUCOUP.



terça-feira, fevereiro 21, 2006

VÊNUS

Crítica Semiótica

Recebi esse texto por e-mail, do professor Eufrásio Prates. Ele faz uma crítica irônica aos acadêmicos burocrático-formais.

"A arte de escrever teses e dissertações"

DOUTORADO
O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da
evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea
Saccharus officinarum Linneu, 1758, isento de qualquer outro tipo de
processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado
sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas
retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena
altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se
disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas
gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo
dissacarídeo em estado bruto, que ocorre no líquido nutritivo da alta
viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifera,
Linneu, 1758. No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse
dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela
forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar
apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de
compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena capacidade de
deformação que lhe é peculiar.

MESTRADO
A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo
processo de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos
sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o
paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas
abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo. Entretanto, não altera
suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão
axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.

GRADUAÇÃO
O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em
blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem sabor
deleitável da secreção alimentar das abelhas; todavia não muda suas
proporções quando sujeito à compressão.

ENSINO MÉDIO
Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável
do mel, porém não muda de forma quando pressionado.

ENSINO FUNDAMENTAL
Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou
flexível.

SABEDORIA POPULAR
Rapadura é doce, mas não é mole, não!!!


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Eufrasio Prates
Assessor de Comunicação - Fundação Banco do Brasil
Professor Semiótica das Mídias / Novas Tecnologias - Pós-graduação UPIS
Gestor da Tutoria - AIEC
Diretor da Associação Brasiliense de Comunicação e Semiótica - ABSB
Secretário Geral Adj. da Federação Latinoamericana de Semiótica - FELS

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Viver um dia após o outro


Minha sobrinha tem atualmente 2 anos e 8 meses, a Sofia. Fico espantada em constatar o quanto ela se desenvolveu, aparenta mesmo mais idade, e não é porque eu sou "coruja", não!
Eu me lembro de muitas coisas que ela fazia (apesar de morarmos em casas diferentes e de nos vermos muito pouco) e que hoje não faz mais. Como por exemplo, me chamar de Bibi (tão linda!!!). Isso acontecia porque ela estava aprendendo a falar e fonologicamente, o "v" (de Viviane) é uma evolução do "b", nas línguas românicas, logo, este, seria o som natural na aquisição da nossa língua.
Resultado: em vez de Vivi, passei a ser a tia "Bibi". Disso, eu nunca esquecerei.
Com o passar do tempo, as atitudes dela foram se modificando, assimila um pouco daqui, outro pouco dali... A convivência mais constante é com a família da mãe (já que minha cunhada e meu irmão não moram juntos) e nós, praticamente, tentamos pegar carona no seu crescimento. Um pouco difícil, mas de uma intensidade especial. Para uma criança, cada dia é especial. E é muito fácil constatar isso, desde a sua maneira de falar, até nas suas diversas formas de reagir a qualquer estímulo.
Estou aprendendo muito com a simples observação de mudanças de comportamento desse lindo bebê. Percebendo também, o quanto é importante como adulto, viver um dia após o outro. Pois, cada simples acontecimento, cada gesto, pode ser um elemento que compõe uma estrutura no futuro que nem imaginamos.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Palavrões em Francês


Quando se estuda a linguagem como um todo, desde sua origem (?) até sua propagação e seus efeitos sobre o ser humano é natural que ocorram discussões acalouradas do tipo, qual será a linha de análise linguísitca mais realista (?) e recorrente. Complicadíssimo... Mas, numa dessas densas discussões, especialmente a respeito de aquisição de linguagem e de seu grau de influência na vida sóciocultural e afetiva humana, questionou-se de forma "ingênua" e eficaz: "Como a gente percebe a 1a. língua no ser humano?" (lê-se: a língua materna, na qual o (a) indivíduo cresceu e se desenvolveu como pessoa...Seus signos e afins.). Foi então que percebi, através da resposta da minha grande-pequena professora Lopo, o verdadeiro tempero de nossos densos estudos, a real noz-moscada que faltava em nossos corredores cinza-amarronzados da UnB (de Letras!!!) : " A língua materna de um indivíduo é a língua em que ele SONHA (todos sabemos o que significam os sonhos... Ou melhor, nós não sabemos, só Freud...) e em que ele XINGA."
Endossando a discussão, quando aprendemos uma 2a. língua (lê-se a língua que você foi obrigado (a) a estudar por conta das cobranças socioeconômicas ou a língua que você achou bonitinha e interessante ), sempre nos dizem que para o aprendizado ser eficaz, temos que mergulhar no contexto cultural onde ela foi criada. Então, ótimo! Quer coisa mais profunda e pragmática culturalmente falando, do que aprender os palavrões da língua que você está estudando?
Bom, então, apresento-lhes um "Vocabulario Alternativo" da língua francesa. Encontrei esta beleza, quando pesquisava sobre a contextos linguísticos. O mais interessante é que nesse site, há também dicionários de palavrões em diversas línguas, que vai do Acadian até o Zulu! Bom, eis alguns dos verbetes (em ordem alfabética) para você xingar com elegância:
Allumé(e)- Bêbado (a). (ao pé da letra é iluminado...)
Baiser- Transar. (originalmente, baiser é beijar, mas no francês atual se usa embrasser. Portanto, nunca use baiser quando você quiser dizer beijar, pelamordedeus.)
BCBG- Bon chic, bon genre. (Usado para definir alguém altamente "fashion". Ai, ai...)
Bigornette - Cocaína. ("Prendre de la bigornette"= "Dar uma cheiradinha")
Bite, bitte- Órgão genital masculino (hehehe)
Bloblos - Grandes seios siliconados, exagerados, beirando o vulgar.
Branleur - Pessoa estúpida.
Caca- Cocô. (Essa é universal!!!!!Você está autorizado (a) a falar esta palavra na França, referindo-se a cocô.)
Clair comme dans le cul d'un negre - Entendeu, né? Se você for um idiota, pode falar isso por lá, na boa. Mas, o contexto também será questionável...
Chate - Órgão genital feminino. (ha)
Fille - Prostituta. (Fille, no francês formal é moça. Portanto, nesse caso é o contexto e o tom de voz que vai ajudar você a se comunicar direito...)
Fils de pute/Putain - Sonofabicht.
Flic - Polícia, osômi.
Folle - Rainha. Você tem um amigo afeminado, mas que não assume seu posto perante a sociedade? Chama ele disso, então.
Laisse be'ton - Deixa cair (imagine você a situação)
Les Anglais - Menstruação. (sem comentários)
Melon - É uma mulher árabe!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Ridículo!!!!!!!!!!!! Mais uma autoria racista.
MALPT - "Merda pra você!" (Boa sorte)
Pédé- gay, homossexual.
Va te faire foutre! - Vá se...
Va t'faire enculer chez les grècs - Vá se... com os gregos, na Grécia. (consideram a grécia decadente)

Quando mergulhamos no mundo cotidiano é que percebemos a realidade...




quinta-feira, fevereiro 09, 2006

O Tijolo da Grande Construção

Paulo Freire
O andarilho da Utopia

Diálogo e parceria

Paulo Freire, o Andarilho da Utopia, o primeiro projeto em regime de co-produção que a Rádio Nederland, a emissora internacional da Holanda, realiza com uma instituição brasileira não foi escolhido ao acaso. A crença do educador brasileiro na força do diálogo como ferramenta principal do Homem através da educação traduz o desejo da Rádio Nederland de se aproximar ainda mais de seus parceiros no Brasil através de projetos especiais, paralelos às nossas produções diárias de programas de atualidade. Projetos que visam a realização de programas radiofônicos sobre assuntos variados da vida brasileira, regionais e nacionais, abrodados a partir de uma perspectiva internacional e que possam contribuir para a promoção do Homem.Trata-se de mais um passo na nova via empreendida pela emissora internacional da Holanda desde que deixamos as transmissões pelas ondas curtas e iniciamos nossas transmissões via satélite.

Em parceria com a CRIAR Assessoria de Comunicação de São Paulo, com o apoio da Universidade de São Paulo e do Instituto Paulo Freire, entre outras instituições, a Rádio Nederland tem o prazer de oferecer às emissoras parceiras no Brasil, à bibliotecas, instituições educacionais e ao público em geral este Paulo Freire, o Andarilho da Utopia.

Porque acreditamos no diálogo e na parceria como ferramentas fundamentais nestes tempos de globalização.

Carlos Lagoeiro

Paulo Freire

Pesquisa e texto (trechos) de Moacir Gadotti (Instituto Paulo Freire) e Maria Duque-Estrada (jornalista), publicado na Edição Comemorativa dos 50 anos da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência)

"Eu gostaria de ser lembrado como alguém que amou o mundo, as pessoas, os bichos, as árvores, a água, a vida", disse Paulo Freire em sua última entrevista, em 16 de abril de 1997, duas semanas antes de morrer de infarto no dia 2 de maio, aos 75 anos.

Paulo Reglus Neves Freire encontrou muitas situações adversas desde a infância, quando a crise financeira de 1929 forçou sua família a mudar-se de um bairro de classe média, em Recife, onde nasceu em 19 de setembro de 1921, para Jaboatão, área mais pobre, onde completou o primário. "Fiz a escola primária no período mais duro da fome, de uma fome suficiente para atrapalhar o aprendizado.", contou uma vez. Aos treze anos perdeu o pai, o seu grande incentivador, e aos dezessete começou a trabalhar para ajudar em casa. Graças a uma bolsa de estudos, pôde cursar um colégio particular, o Ginásio Oswaldo Cruz. Já tinha quinze anos quando fez o exame de admissão - equivalente, hoje, à passagem do curso primário para o primeiro grau.

Foi entre os quinze e os vinte e três anos que Freire disse ter sido "atraído pela educação". O casamento, em 1944, com a professora primária Elza Maria Costa Oliveira, aumentou seu interesse pelas questões ligadas ao ensino. Já formado em direito pela Universidade Federal de Pernambuco, onde ingressara aos vinte e dois anos, exerceu o cargo de diretor do setor de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria (SESI) entre 1947 e 1954, passando a diretor de 1954 a 1957. Através do SESI teve a primeira experiência com alfabetização de adultos.

Em 1956, a convite do prefeito progressista Pelópides Silveira, Paulo Freire passou a integrar o Conselho Consultivo de Educação de Recife. Dois anos depois, num congresso sobre educação de adultos, no Rio de Janeiro, sistematizou pela primeira vez seu método de alfabetização que, por integrar consciência política e aprendizado da escrita, valeu-lhe na época o repúdio dos "conservadores".

Lecionava filosofia da educação, disciplina pela qual se doutourou com a tese Educação e atualidade brasileira, quando, em 1961, foi nomeado diretor da Divisão de Cultura da Secretaria Municipal de Educação pelo então prefeito de Recife, Miguel Arraes. Por iniciativa de Arraes, o seu método de alfabetização foi aplicado como experiência em trinta trabalhadores braçais do Departamento de Obras. Os resultados foram tão surpreendentes que o prefeito decidiu ampliar a experiência através do Movimento de Cultura Popular, criado para levar educação e saúde à população dos mocambos da cidade.

Veio a seguir sua colaboração na campanha "De pé no chão também se aprende a ler", empreendida com sucesso pelo então prefeito de Natal, Dialma Maranhão.

Ao organizar e dirigir a campanha de alfabetização de Angicos, Freire ficou mais conhecido nacionalmente como educador voltado para as questões do povo. Logo depois foi para Brasília a convite do ministro da Educação Paulo de Tarso Santos, do João Goulart, para realizar o Programa Nacional de Alfabetização que pretendia alfabetizar e politizar cinco milhões de adultos, eleitores em potencial - na época, o voto do analfabeto não era permitido. Mas o tempo foi curto: menos de um ano, por causa do golpe de Estado.

Em setembro de 1964, setenta dias de prisão em Olinda e Recife e a pressão de inquéritos policiais-militares, fizeram com que Paulo Freire se decidisse a deixar o país, sob a proteção do embaixador da Bolívia. Pouco tempo depois, um golpe de Estado nesse país o levou para o Chile onde, com a família, iniciou nova etapa de sua vida e de sua obra. De abril de 1969 a fevereiro de 1970 morou em Cambridge, Massachussets, dando aulas sobre suas próprias reflexões na Universidade de Harvard, como professor convidado. Em seguida, mudou-se para Genebra, para ser consultor especial do Departamento de Educação do COnselho Mundial de Igrejas.

Entre os "ensinamentos educativos", a prisão não foi dos menores, mas ela o preparou para o exílçio de quinze anos, quando viu ir por terra um sonho que começava a se realizar com sucesso: o de alfabetizar e dar voz aos iletrados, aos oprimidos brasileiros.

O método e sua prática

O método Paulo Freire parte da pesquisa do universo popular e temático do grupo a ser alfabetizado para selecionar situações que servirão de instrumento não só do aprendizado da escrita e da leitura, mas também da discussão da realidade, relacionando o preocesso educativo ao meio social do aluno. Através dessa pesquisa, o educador identifica as "palavras geradoras". O exemplo mais conhecido é o que utiliza a palavra geradora "tijolo": o professor apresenta ao grupo a imagem de uma construção na qual se destacam o objeto tijolo e a palavra "tijolo". As sílabas desta palavra serão usadas progressivamente para a construção de outras palavras, como laje, lote, luta.

mas a grande inovação de Paulo Freire foi basear seu método no diálogo, em que professor e aluno aprenderiam juntos, ao mesmo tempo, acabando com a escola autoritária e dando vida a uma nova escola, democrática e preparadora do homem para o mundo. "Um dos grandes pecados da escola é desconsiderar tudo com que a criança chega a ela. A escola decreta que antes dela não há nada", dizia. E, outra concepção fundamental: Paulo Freire viu o analfabetismo como resultado de uma situação não só econômica e social como também política e histórica de opressão.

Os fundamentos básicos de sua teoria se encontram em Educação como prática de liberdade, escrito nos intervalos das prisões e concluído no exílio, no Chile, que tem um instigante prefácio do sociólogo Francisco Weffort.

Também foi no Chile que publicou, em 1968, Pedagogia do oprimido, sua obra mais conhecida, que dedicou "aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas sobretudo com eles lutam". Editado primeiro em inglês e espanhol em 1970, só apareceu no Brasil quatro anos depois.

Como outros pensadores, Paulo Freire assinalava: "A linguagem tem a ver com as classes sociais, sendo que a identidade e o poder de cada classe se refletem na sua linguagem". Ele considerava que os critérios linguísticos da elite são muito difíceis de serem alcançados pelas pessoas comuns de baixa extração econômica. "Ao entender os aspectos elitistas e políticos do uso padronizado da língua, o professor libertador evita culpar os estudantes pelos seus erros de utilização da língua", escreveu. Isto não quer dizer que o professor libertador deva desprezar o uso correto da língua segundo a norma culta: "Do meu ponto de vista" - acrescentou - "o educador deverá tornar possível o domínio, pelos estudantes, do padrão, para que possam sobreviver, mas sempre discutindo com eles todos os ingredientes ideológicos desta ingrata tarefa".

Críticas à sociedade tradicional

Ao substituir a autoridade pelo diálogo na sala de aula, a nova pedagogia não abole a disciplina. A esse respeito, Freire apontou várias armadilhas que, na escola tradicional, levam ao empobrecimento do papel do professor. Por exemplo, ele via com suspeita a substituição do tratamento de "professora" pot "tia" nas escolas. "A candura e o carinho da tia - advertiu - encobre subrepticiamente uma deslegitimização e uma desprofissionalização do docente e de seu papel e, enfim, um conjunto de sentidos não tão cândidos a respeito dos quais os professores e professoras deviam no mínimo estar conscientes e alertas. A professora pode gostar de ser tia e preferir continuar sendo chamada de tia. Nada tenho contra isso. Mas é preciso que ela saiba o que há de manha ideológica nesse tratamento".

Outras situações, ao contrário, levam à aceitação do autoritarismo por parte dos alunos. Um exemplo é quando o professor responde em voz alta a suas próprias perguntas e encerra o assunto ao enfrentar o silêncio da turma ou respostas monossilábicas. Freire descreveu este momento como "o mais angelical da pedagogia tradicional, porque os alunos aprendem como a resposta ideal já está resolvida na cabeça do professor ou no manual. Como é que suas próprias respostas poderiam ser melhores? Se ficarem quietos o tempo suficiente forçarão o professor a dizê-las em voz alta e poderão copiá-las com o menos trabalho possível".

O legado de Paulo Freire

Um mês antes de morrer, Paulo Freire esteve em Nova York para um encontro de professores. Na época, acabara de lançar seu último livro, Pedagogia da autonomia (Ed. Paz e Terra), e escrevia um novo , que se chamaria Cartas Pedagógicas. "É sobre determinados envolvimentos nossos na vida em casa, na relação doméstica, na escola, na rua, procurando esclarecer como essas situações têm muito a ver com o destino democrático do Brasil", revelou. "Escrevo fazendo um apelo para que se possa fazer qualquer coisa no sentido de melhorar a educação brasileira. Para isso, é urgente que se respeitem professores e porfessoras. E uma das condições de respeito é pagar bem, ou menos imoralmente. A outra condição é acreditar".

Paulo Freire deixou diversos livros que continuam sendo publicados em diversas línguas e influenciaram toda uma geração de educadores e militantes políticos. Ainda vivo, virou nome de nove escolas, tornou-se cidadão honorário de nove cidades, recebeu seis prêmios internacionais e batizou três cátedras universitárias. Foi doutor honoris causa por 28 universidades, nome de rua em Itabuna (BA) e de 26 centros de estudos e documentação em questões educacionais em países tão heterogêneos quanto a Itália, o Chile, a Bélgica e os Estados Unidos. Sem falsas modéstias, não escondia seu prazer com as homenagens: "Elas me alegram e me fazem bem", confessa em Pedagogia da Esperança (1992).Mas apesar de todas as homenagens que recebeu, foi sobretudo um homem simples. É por isso que Moacir Gadotti insiste:

- Dar continuidade a Freire não significa tratá-lo como um tótem, ao qual não se pode tocar mas se deve apenas adorar; nem como um guro, que deve ser seguido por discípulos, sem questionamentos. Nada menos freireano do que esta idéia. Paulo Freire foi, sobretudo, um criador de espíritos. Por isso deve ser tratado como um grande educador popular. Adorar Freire como um tótem significa destruí-lo como educador. Por isso não devemos repetir Freire, mas "reinventá-lo", como ele mesmo dizia, e levar adiante o esforço de uma educação com uma nova qualidade para todos.

E qual foi o legado que Paulo Freire deixou?

- Suas palavras e suas ações foram palavras e ações de luta por um mundo "menos feio, menos malvado e menos desumano". Ao lado do amor e da esperança, ele também nos deixou um legado de indignação diante da injustiça. Diante dela, dizia que não podemos "adocicar" nossas palavras - afirma Gadotti, organizador da bibliografia de Paulo Freire (Ed. Cortez, 1996) com 780 páginas, a obra mais completa sobre o educador, que está sendo traduzida em diversas línguas.

O que mais preocupava o educador nos últimos anos era o avanço de uma globalização capitalista neoliberal. Ele atacava tanto o neoliberalismo por ser uma doutrina visceralmente contrária ao núcleo central de seu pensamento, que é a utopia.

- Para Paulo Freire - continua Gadotti - o futuro é a possibilidade. Para o neoliberalismo o futuro é uma fatalidade. O neoliberalismo apresenta-se como única resposta à realidade atual, desqualificando qualquer outra proposta. Desqualifica principalmente o Estado, os sindicatos, os partidos políticos. Denuncia a política fazendo política.

Outro legado de Paulo Freire, acrescenta, é a esperança.

Ele era um ser humano esperançoso. Não por teimosia, mas por "imperativo histórico e existencial", como afirma em Pedagogia da Esperança. Além da esperança, cultivou a autonomia, que é a capacidade de decidir-se, de tomar o próprio destino nas suas mãos. Diante de uma economia de mercado que invade todas as esferas de nossa vida, precisamos lutar - também através da educação - para criar na sociedade civil a capacidade de governar e controlar o desenvolvimento (alternativa ao socialismo totalitário).

No desenvolvimento de sua teoria da educação, Paulo Freire conseguiu, de um lado, desmistificar os sonhos do pedagogismo dos anos 60, que sustentava a tese de que a escola tudo podia, e, de outro lado, conseguiu superar o pessimismo dos anos 70, para o qual a escola era meramente reprodutora do status quo. Fazendo isso, superando o pedagogismo ingênuo e o pessimismo negativista - conseguiu manter-se fiel à utopia, sonhando sonhos possíveis.

Fazer hoje o possível. De hoje para amanhã fazer o impossível de hoje.

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Este texto está contido no encarte do CD "O Andarilho da Utopia" - Paulo Freire (ver link no início do texto)

Ressalto aqui, a realização de um belo trabalho, o qual registra a vida e obra de um "grande pensador e ator" da educação no Brasil.
É interessante destacar também, que esse projeto foi idealizado e concretizado por uma instituição estrangeira, a Rádio Nederland, da Holanda. Um claro sinal de que só começamos a existir a partir do momento em que nos enxergam. Triste realidade...

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Alguns Encantos


A banda brasiliense Casa de Farinha vai lançar seu DVD no próximo dia 16, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Vale a pena conferir!
Aliás, vai rolar coquetel de lançamento (só pra convidados!) no dia 15, no terraço do Teatro.
Vou colocar o link do site da banda, onde dá pra acompanhar a agenda, discografia, fotos, etc.

É difícil alguém daqui de Brasília que não conheça o som da banda. Trata-se de uma aglutinação de sons e linguagens artísticas. É possivel enxergar através das performances teatrais e plásticas, a sintonia com as notas e estilos musicais que o grupo apresenta no palco. O espírito mestiço brasileiro.

Brasília

Brasília não é mais a mesma...Anda repleta de pessoas, sejam elas moradoras ou turistas, o fato é que as coisas mudaram por aqui.
Os meses de férias já não transformam mais a cidade em um cenário fantasmagórico. Os carros (quantos carros!) se movimentam a todo vapor e os pedestres se aglomeram feito formigas que respeitam uma coreografia cotidiana e impulsionada pelos odores de seus próprios rastros. Já é possível até mesmo vivenciar a agonia e o stress de uma metrópole, quando o assunto é engarrafamento. E não importa se vc está se locomovendo por Brasília de veículo particular, coletivo ou a pé! Uma correria digna de cidade grande... Para alguns, isso é motivo de orgulho, mas para outros, é sinal de que as mudanças de hábitos devem caminhar junto com mudanças de planejamento urbano e social.
Outro exemplo? Os "barzinhos". Plena segunda-feira, clima chuvoso, aglomerações, e os estabelecimentos que fornecem munição etílica estão repletos de grupinhos, duplas, solitários (as)... Sem contar os vários "projetos culturais" (tá bom... é balada mesmo!) que aparecem e desaparecem nessa cidade volúvel. Minha mãe que sempre tece uns comentários bastante pertinentes: "Por que esse pessoal não vai pra casa? Tanta coisa pra se fazer! Mas, não, ficam aí, bebendo, falando besteira, essas moças novas! Acho tão feio...No meu tempo não era assim!"
Nem no meu...(rs)
Todos sabemos que a cidade foi 'povoada' por habitantes oriundos de diversas regiões e que desde a sua fundação, o que impulsiona cidadãos a virem morar em Brasília é a pesrpectiva de trabalho, em todos os níveis. Do simples balconista até o alto escalão executivo. Afinal, estamos na capital federal...
O que acontece agora, em pleno ano de 2006, é que podemos perceber a predominância de "forasteiros". Um belo dia, fui apresentada a uma mulher, amiga de alguém que eu não me lembro (não sei se era do Marcelo, já que ele é paulista e esse tipo de comentário é bem possível que tenha saído da 2a. maior colônia de forasteiros de BsB...Brincadeirinha! ehehehe!) e essa pessoa perguntou: "Ela é daqui????????!!!!"-toda indignada continuou- "É porque é tão difícil, né, encontrar alguém daqui, aqui." (????????!!!!!!!). Enfim...
Mas, é interessante essa Babilônia. Cada panela puxando a brasa pra cozinhar a sua sardinha, mas mesmo assim, é uma forma democrática de formação cultural. Os forasteiros são bem-vindos! (meus pais são, meu namorado é...).Vamos ver no que isso dá. Espero anciosamente também pelas próximas eleições distritais...

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Sonhos


Comecei a escrever hoje no meu blog